2016/05/19

Ficção Pura #2

Saudade

Prólogo: Saudade é aquela palavra que só em Portugal e em Português é que faz sentido. Porque só quem vive cá e quem nasceu cá consegue realmente compreender o que é este sentimento. É que nem sequer um Brasileiro ou um Angolano conseguirão explicar da mesma forma.
Saudade não é só aquela dor no peito que sentimos quando nos lembramos de algo bom que não temos/vemos/sentimos/comemos há demasiado tempo. É mais que isso. Eu não sei como traduzi-lo em palavras.

Ficção: Hoje tenho saudades de ti. De te abraçar, de gargalhar contigo. Do entrar em loop que tanto te caracteriza, dos teus sussurros no meu ouvido, das tuas palavras porcas e dos teus gritos que não eram de socorro.
Relembro com saudade o momento em que tudo começou, numa praia na Costa da Caparica. Os meus olhos trespassavam o teu bikini, a tua companhia sentiu-se incomodada e veio pedir satisfações. Calmamente tive que explicar que o problema não era meu nem dele, mas sim teu que com a tua beleza paravas a praia. Com o teu bikini às riscas coloridas partias pescoços e corações. Como a explicação só agradou a um de vocês, a discussão que estalou a seguir favoreceu-me. Desculpei-me e ofereci-me para ser nova companhia, ao que respondeste que só o autorizarias depois de te pagar uma cerveja bem gelada.
A cerveja levou a uma troca de números de telefone e da conversa subsequente soube finalmente o que te caracterizava. O humor negro, sarcástico, quase cáustico e meio corrosivo. O teu feitio de malvada. O teu coração mole. Em poucas horas fiquei louco.
Já ao fim do dia, chegado a casa, pensei em mandar-te uma mensagem mas não quis parecer demasiado pressionante. Quando pensava com carinho nos frescos lençóis da minha cama, o telefone vibra e o ecrã ilumina-se. Pensava que ia ter novidades tuas, mas parece que afinal não sou boa companhia, li. Duas horas depois tocava-te à campainha, depois de cinquenta quilómetros feitos a velocidade moderada e agarrado ao telefone.
Foi a última vez que te vi ou que trocámos mensagens.

6 comments:

  1. Eu costumo definir saudade como "o amor que fica".
    Quanto à ficção, gostei muito. Devias-te dedicar à coisa, podem surgir grandes histórias ;)

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  2. Ai saudade-saudade! "O preço que se paga por viver momentos inesquecíveis"
    Tens futuro na ficção!
    Gostei muito!

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  3. Deixa que te diga que o texto está realmente muito bonito e cativante. É daqueles que prende o leitor!
    Parabéns.
    Beijinhos

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  4. Aiiii saudades de um amor de verão hihih
    Muito bom Silent!

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  5. 5o quilómetros em velocidade moderada e agarrado ao telemóvel???!!! Sorte a tua não teres sido autuado :D

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  6. Alexandra Gomes
    Gosto dessa definição... Quanto ao dedicar-me à ficção, já é uma coisa que faço. Se calhar vou passar é a ser mais assíduo!

    Sou Toda Amor
    Outra boa definição... Obrigado

    Chic'Ana
    As palavras são cordas à volta do cérebro que quando bem ditas formam um nó impossível de desatar! :D

    AFA
    Amores de Verão. Quem os não teve... :) Obrigado

    Quarentona
    É Ficção... Mas já fiz mais que isso, nunca tive acidentes e só em auto-estrada. O cruise control deu uma ajuda! :D

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