2016/10/28

Rádio

Tenho poucos amores neste mundo. A minha mulher e o meu filho acima de todos os outros, os meus pais e o meu avô, dois ou três amigos mais próximos, o meu hobbie e o meu ramo de actividade. E música. De todos os tipos e em praticamente todas as formas. Tenho tendência para gostar mais de vozes poderosas, capazes de alcançar estratosferas com ar muito rarefeito, que poucas pessoas conseguem alcançar. Whitney Houston ou Luther Vandross no Soul, Shirley Manson, Sandra Nasic, Mike Patton, Eddie Vedder, Kurt Cobain, Robert Plant, Layne Staley, para só dizer alguns. Música clássica, muito Wagner e Beethoven. Algum Metal. Muito Indie.

Por causa do meu amor à música e pelos meus gostos pessoais, estou intimamente ligado à Antena3. Praticamente desde a sua fundação, é uma das minhas rádios preferidas. Já participei em milhentos passatempos e já lá estive imensas vezes com pessoas ligadas a esta rádio. Nunca conheci pessoalmente o Jaime Fernandes, mas era capaz de reconhecer a sua voz em qualquer lado. E saber do seu falecimento, deixou-me triste.

Jaime Fernandes é daquelas pessoas que amou a rádio como se deve amar a mulher ou o filho. Lutou com afinco pela fundação da Antena3, ignorou os velhos do Restelo, transformou-a numa rádio nacional, ouvida por todos, mais ou menos ricos, mais ou menos cultos, mais ou menos trabalhadores, mais ou menos importantes. Desde que mantivessem (mantenham...) uma mente jovem e aberta, esta era (é...) a rádio certa para eles. Como em todas as rádios, tem coisas que gosto e outras que não, mas o que é certo é que nesta rádio encontro menos coisas que não gosto que nas outras. Não repete as músicas até à exaustão, não esta demasiado cheia de anúncios, não se cinge a um único tema ou movimento, não se rege pela carneirada nem pelo dinheiro nela injectado por um qualquer artista.

Nela encontro comédia, drama, amizade, companheirismo, desporto, música boa, música menos boa, nova ou antiga, conhecida ou nem por isso. Acima de tudo, a música. E ontem, ao ouvir pessoas como o António Freitas ou o Álvaro Costa, compreendi que mais que tudo, o Jaime Fernandes preocupava-se com... A música. Como eu.

Como em todas as relações, também a minha relação com a Antena3 já me desiludiu. Programas como "Cancões com História" ou "A Primeira da manhã" deixaram-me saudades que ainda não foram colmatadas. Os substitutos não me satisfazem da mesma forma. Mas é como a dieta. A malta não gosta tanto, mas continua a comer.

Tomara eu que existissem mais pessoas como o Jaime Fernandes neste país tão grande em pessoas mas tão pequenino em atitudes. Possa a sua memória permanecer junto de nós durante muitos anos.

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